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domingo, junho 08, 2008

Os cem anos de imigração japonesa no Brasil! - Terceira parte

Prefácio

Será neste mês de junho que teremos as comemorações do centenário da imigração japonesa no Brasil. Para três blogs sobre animação e cultura japonesa, que fazem esta matéria especial, é chegada a hora da última parte da mesma.

As primeiras partes, feitas pelo Leandro Nisishima do "Subete Animes" e pelo Alberto DeCyber do "The Key of the Broken Hearts" explicaram muito sobre a história da imigração, com ênfase não somente em importantes passagens da história brasileira e mundial, mas também no como o Japão era do início do século XX até meados da Segunda Guerra Mundial.

Com isso, é apresentado então o segmento final da matéria. Saiba como o Japão saiu da derrota na Segunda Guerra Mundial para se tornar uma das principais potências do mundo moderno, como vive sua população, e os mais diferentes contrastes entre estes dois países de culturas tão distintas e exuberantes, que são o Brasil e o Japão.

Terceira parte - Os tempos modernos e os seus contrastes

Do fim da Segunda Guerra Mundial aos
anos 60: a "virada" japonesa


O centenário simbolizado.

A Segunda Guerra Mundial deixou sérias seqüelas no mundo. A tristeza e os terrores que um conflito desta magnitude pode proporcionar se fizeram presentes não apenas durante o período do guerra ( 1939 à 1945 ), como também após a mesma. Muito embora o Brasil tenha participado com tropas nos combates em solo europeu, o solo brasileiro não foi alvo de ataques armados. No entanto, com o Japão ocorreu o contrário...

As bombas atômicas lançadas no solo nipônico fizeram o país assinar a sua redenção, e declarar com isso a sua derrota. Desolação, desespero e incertezas tomaram conta da população nipônica. Sentimentos iguais ecoavam-se pelo mundo, entristecido e abalado pela Segunda Guerra Mundial, que vitimou milhares de habitantes, não somente no Japão, mas em várias partes do globo, especialmente o continente europeu.

No período compreendido entre 1945 e 1952, o Japão chegou a ser ocupado pelos Estados Unidos. O Japão passou a ser observado intensamente pelo governo norte-americano, dadas as circunstâncias que levaram os dois países a se confrontarem na guerra encerrada. Já no ano de 1953, foi retomado o processo de imigração japonesa no Brasil, que havia sido interrompido em 1941.

No entanto, o Japão foi recompondo-se aos poucos da derrota na Segunda Guerra Mundial, em meados dos anos 50. O correto é dizer que os anos 60 marcaram definitivamente a ascensão japonesa. A industrialização no país crescia de forma assustadora, especialmente no ramo tecnológico.

A abertura para o mundo transformou o Japão. Sua capital, Tóquio, tornou-se uma das maiores cidades do mundo, tanto em área urbana como em número de habitantes. O Japão, em 1968, tornou-se a segunda maior economia do mundo ( primeiro posto pertencente aos Estados Unidos ), deixando importantes potências européias para trás.

O símbolo dos Jogos Olímpicos de 1964.

Mas foi um evento esportivo, no ano de 1964, que mostrou ao mundo a tendência e o fôlego renovado deste novo Japão. Com a introdução de aparelhos eletrônicos em quase todas as provas, o público entusiasmado, e as mais variadas formas de novas tecnologias que encantaram o mundo, os Jogos Olímpicos em Tóquio fez a alegria dos japoneses. Muito embora seja verdade que Tóquio iria sediar os Jogos antes disso ( 1940 ), a Segunda Guerra Mundial atrapalhou o processo.

Esta edição da Olimpíada não apenas mostrou ao mundo este novo Japão, como também serviu para aumentar a auto-estima da população nipônica. Como já foi frisado, os abalos deixados pela guerra ainda eram presentes, e a população japonesa demonstrava reação. Os Jogos Olímpicos serviram como uma espécie de estopim para os nipônicos, para demonstrarem o orgulho de sua nação, e com isso terem suas esperanças e anseios de um futuro melhor renovados.

Um período de "altos e baixos" para o Brasil e
para o Japão...


Os anos 60 marcaram o início do processo mais duro e intenso da Guerra Fria ( uma espécie de guerra não declarada ), com a corrida espacial entre norte-americanos e soviéticos, desentendimentos entre os blocos capitalista e socialista ( liderados pelos Estados Unidos e pela União Soviética respectivamente ), e vários conflitos ao redor do globo. O Japão seguia em seu processo de crescimento, e o Brasil experimentava o conhecido milagre econômico, quando o país chegou a crescer ( em média ) 11% ao ano.

Em meados dos anos 70, o Japão obteve o seu pior índice de crescimento econômico após a Segunda Guerra Mundial ( 0,4% ). No final da referida década, o Brasil acumulava uma dívida externa superior a 50 bilhões de dólares, sendo uma das maiores de todo o mundo. A Ásia, a África e a América Latina experimentavam em alguns de seus países tomadas dolorosas pelo poder.

O Plano Cruzado, criado no início de 1986, alimentou a esperança da população brasileira.

Os anos 80 apresentaram alguns importantes contrastes também. O Japão mostrou sua recuperação, obtendo uma taxa de crescimento que seria a maior desde os anos 70,sendo esta superior a 5%. O Brasil experimentou a maior inflação de sua história, que superou a marca dos 200%. Houve a questão do Plano Cruzado ( 1986 ), que iniciou de forma grandiosa mas em poucos meses desestabilizou-se, dando lugar ao Cruzado Novo ( 1989 ), que pouco modificou a situação econômica brasileira.

Com os anos 90 veio a retomada de crescimento, tanto para japoneses como para brasileiros, embora ambos os povos tenham passados por problemas internos ( novidade!? ). O mercado de ações e imobiliários do Japão estourou no início da referida década, e no final da mesma houve o pior índice de desemprego japonês, superando a marca dos 4%. O Brasil teve um reencontro com o Cruzeiro ( 1990 ), passou pelo impeachment do presidente Collor ( 1992 ), foi apresentado para o Cruzeiro Real ( 1993 ), e vislumbrou com euforia o início do plano Real ( 1994 ). Em 1995, o Brasil experimentou sua menor taxa de inflação em 45 anos, e a moeda ( o Real ) mostrava uma forte estabilidade ( o que não significa, até hoje, melhores condições de vida num todo ).

Atualmente, o Japão continua sendo uma das grandes potências mundiais, muito embora tenha experimentado um período de 11 anos sem apresentar crescimento econômico ( 1992 - 2003 ). Por sua vez, o Brasil tem mantido o Real como moeda forte e a inflação controlada, mas a taxa de crescimento anual não é a esperada e os números atuais da economia nacional não condizem ( em grande parte ) com o modo de vida da maioria da população brasileira.

O Japão hoje em dia

Japão, um pequeno país situado no continente asiático, que apresenta uma das maiores populações do mundo. Este país é uma das grandes potências do mundo moderno e referência em tecnologia, o que acaba atraindo pessoas de várias partes do mundo para ali conseguirem trabalho e estabilidade.

Miko com feixes de arroz. Haru Matsuri, o Festival de Primavera, na
cidade de Nara. Foto de Gorazd Vilha.


O Japão é hoje, além do descrito acima, um país de contrastes. Sua cultura, rica em beleza e concepção, divide espaço com a cultura proveniente do mundo ocidental. No entanto, a cultura antiga e milenar não é esquecida, mas sim praticada de formas diferenciadas entre os mais jovens e os mais velhos: enquanto os primeiros vão aos templos pedir por proteção, os segundos vão aos mesmos templos pedir por uma boa morte. Não é estranho para eles japoneses, mas para muitas das culturas ocidentais pedir por uma boa morte é algo muito diferente...

O trabalho continua a ser levado com muita seriedade, mas linha igual segue a paixão japonesa pelo seu esporte mais popular, o beisebol. Outras modalidades esportivas são praticadas pelos nipônicos, entre as quais estão o vôlei, o rugby, o hockey e mais recentemente o futebol ( e seu crescimento acelerado desde o início dos anos 90 ). Isso sem mencionar o judô e o sumô...

A mudança de mentalidade e de direcionamento de idéias é algo muito comum em qualquer lugar do mundo, e nisso o Japão não é exceção. As formas como os jovens se vestem e passeiam pelas grandes cidades japonesas ( como Tóquio e Osaka ) são muito diferentes e chamativas. Ao mesmo passo, os mais velhos tentam manter os costumes tradicionais de suas vestimentas, como o uso dos kimonos.

Nisso, um ponto bastante peculiar deve ser notado: o Japão será um país de idosos. Isso pode ser reflexo da atual baixa taxa de natalidade, pois a maioria dos casais nipônicos são adeptos de ter um filho apenas. Este evento pode levar o Japão a outro provável acontecimento, que será a diminuição de seu número de habitantes.

Tóquio à noite. O show das luzes de neon, alinhado ao tráfego intenso
de pedestres e de veículos.


Assim como passear pela cidade de São Paulo significa visualizar uma quantidade gritante de edifícios ( verdadeiros arranha-céus ), andar por Tóquio pode significar ( além disso ) visitar o "velho" e o "novo". A capital japonesa, que ( assim como São Paulo ) está entre as cinco maiores cidades do mundo atualmente, convida a quem ela visita a observar as novas tendências arquitetônicas deste país, ao mesmo passo em que se pode desfrutar das antigas tendências arquitetônicas nipônicas, o que pode ser observado em templos e antigos castelos.

No Japão, é muito comum as ruas das cidades serem mais estreitas e as casas ocuparem um espaço físico menor, o que não vem a significar necessariamente um desconforto. Converter automóveis para este tipo de vida é algo que em pouco tempo poderá ser realidade no Japão.

A vida de dekassegui no Japão

Anseios como melhores condições de vida movem pessoas a buscar por melhores condições de trabalho. No caso específico do Brasil, isso é um fato bastante conhecido. Inclusive, muitos são os brasileiros que, apesar do momento estável e pacífico da economia nacional, preferem buscar pelos anseios citados em outras nações do globo. Países como os Estados Unidos, a Alemanha, a Inglaterra e a Espanha são destinos certos. O Japão também é um destes destinos.

Uma longa jornada de trabalho, que para muitos é compensadora o bastante.

Muitos são os filhos descendentes de famílias japonesas que vieram viver no Brasil que hoje estão na terra natal de seus entes passados. Eles se dividem entre os que buscam no Japão uma fonte de juntar dinheiro para depois viver melhor no retorno ao Brasil, e entre aqueles que buscam fincar suas raízes em solo japonês.

Existem alguns sérios empecilhos. Os principais e de maior impacto são o idioma local e a cultura diferenciada. As escolas são um belo exemplo deste fato onde, em muitos casos, se faz necessário a existência de salas de aula distintas para os filhos de famílias brasileiras que ali vivem. No entanto, os brasileiros costumam ser bem vistos entre os japoneses pois, como foi anteriormente citado ( no início desta matéria ), são povos de culturas diferenciadas porém exuberantes.

As condições de trabalho e qualidade de vida falam mais alto, uma tendência colocada sempre à risca, e geralmente aprovada. Para tanto, muitos são os esforços necessários. Turnos de trabalho que podem chegar a doze horas diárias não são difíceis de se encontrar, com um pagamento mensal bastante bem-vindo pelo funcionário brasileiro praticante da dita jornada. As outras doze horas são dividas entre o descanso e o curto tempo com a família. Apesar disso, estes brasileiros dizem que isso vale a pena, que não se arrependem, que no Japão querem ficar.

O brasileiro que vive no Japão pode ter um contato com seu país natal em vários locais, onde são vendidos não somente produtos do Brasil, como também de outros países sul-americanos. A cidade de Oizumi é considerada como a mais brasileira das cidades japonesas, onde muitos são os locais especializados em vender produtos brasileiros.

Hoje, são mais de 300 mil o número de brasileiros que vivem no Japão. A força motriz é a qualidade de vida. Ainda mais do que isso, a vontade de "fazer dinheiro" impulsiona muitos a irem até o Japão.

Um pouco da cultura japonesa que invadiu
o Brasil...


O bairro da Liberdade, na cidade de São Paulo.

Já foi mencionado que o Japão é um país que faz contraste direto entre o "velho" e o "novo". Muito de sua cultura milenar espalhou-se pelo mundo. O Brasil é um dos alvos.

Os animes não são a única influência direta da cultura japonesa ( mas respondem bastante pela mesma ). Suas músicas também o fazem. Vários são os cantores e grupos conhecidos de J-Music.

Além disso, os festivais que ocorrem tradicionalmente no Japão se fazem presentes também em solo brasileiro. Em cidades como São Paulo e Maringá, que são grandes redutos de japoneses, a realização dos festivais ao estilo nipônico segue o nosso calendário de estações do ano. Essas festividades costumam seguir à risca os moldes tradicionais de sua terra de origem.

Mais recentemente, os conhecidos quadrinhos japoneses ( mangás ) também ganharam seu espaço em terras tupiniquins.

Considerações finais

O grupo "Savage Genius". Entre as suas músicas mais conhecidas, estão os temas de abertura e de encerramento do anime "Uta-Kata".

Assim encerra-se esta matéria especial sobre o centenário da imigração japonesa no Brasil, que envolveu três blogs parceiros no ideal de levantar informações sobre este assunto, e levar as mesmas para os visitantes de tais blogs.

O "The Key of the Broken Hearts", o "Subete Animes" e o "NETOIN!" agradecem muito à quem acompanhou esta matéria desde a sua primeira parte, publicada no início de abril. Levantar dados sobre a história japonesa, o andar dos fatos paralelamente entre o Brasil e o Japão, e como estão estes países hoje em dia não foi uma ação das mais fáceis, porém foi das mais prazeirosas e gratificantes.

Novamente, é aqui ratificado um imenso agradecimento a quem acompanhou esta jornada desde o seu início. Com certeza, novos horizontes irão se abrir à partir deste e você, visitante, sempre estará a par da situação e das novidades.

Muito obrigado, e até a próxima!

[ por Carlírio Neto, do blog "NETOIN!" ]

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Confira a matéria também no "The Key of the Broken Hearts" e no "Subete Animes".

Essa matéria não seria possível se não fosse pela vontade e pelo anseio ao redor do tema do centenário da imigração, entre os donos dos três blogs participantes.

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