Em pauta!

quinta-feira, dezembro 17, 2015

[N! 9 Anos] Precisamos falar sobre Elfen Lied...

A chamada da vez.
Ou se ama ou se odeia. Não há meio-termo...
Ou pelo menos, esta tem sido a máxima alardeada por ai...

É difícil se manter indiferente quanto a Elfen Lied...

A face da misericórdia.
Eu devo concordar que é difícil se manter indiferente quanto a Elfen Lied sim, embora seja possível. Isso se dá pelo fato de a série lidar com emoções paradoxais tão intrínsecas ao essencial do ser humano. Preconceitos, ignorância, medo, ódio, rancor, vingança, poder monetário, avareza, ganância, ciúmes, egoísmo, ambição e, especialmente, nosso aspecto binário, onde maldade e bondade são duas irmãs que coexistem e andam de mãos dadas. Lucy é a personagem central deste tecnodramatico sombrio e sanguinolento anime (por vezes de um humor negro bizarramente jocoso), e é a personagem que melhor carrega esta contradição de sentimentos humanos. Seu passado é triste e doloroso, sendo usada, traída e manipulada por aqueles que confiava. Sem família ou amigos, quando algo de bom lhe acontece, rapidamente é retirado dela. Isto moldou sua personalidade cínica e egoísta que desenvolve na juventude.

O pano de fundo desta história é tecido com uma tonalização bastante melodramática da vida, como uma forma de convergência temática. É o grande ponte de polarização de opiniões em relação ao seu enredo. Há pessoas que acham mesquinho e manipulativo (mas não o é toda obra de ficção?), moldando as pessoas de um modo muito monocromático. Nesse sentido, eu penso que da mesma forma que há séries que ignoram completamente o aspecto sombrio do ser humano, há outras que se concentram demasiadamente sobre ele [e existem aquelas que buscam uma espécie de equilíbrio]. Não há nenhum problema com este tipo de abordagem. É tudo uma questão temática e seu apelo para contigo irá depender do seu estômago e cristicismo, afinal, cada um desenvolve um criticismo próprio. Ainda que em algumas pessoas, isto seja ausente.

Elfen Lied se desenvolve em cima das interações das pessoas, emoções e discriminações entre humanos e Dicornius, uma espécie mutante parecida com os humanos na forma, mas distinguíveis por dois chifres na cabeça e pelos vetores, braços transparentes controlados mentalmente que têm o poder de manipular e cortar objetos dentro do alcance. O texto trabalha em cima do temor primitivo do ser humano por aquilo que é diferente. Se, desde o advento das histórias em quadrinhos artistas têm achado uma bacia repleta de possibilidades na relação conflituosa entre seres humanos comuns e pessoas com habilidades especiais, é porque se trata [mesmo nos tempos atuais] de uma metáfora poderosa para refletir o pavor e medo que o ser humano naturalmente nutre por tudo que se distingue do padrão, que lhe fuja do controle e soberania. É mais do que preconceito, é uma força arraigada das mais intimas profundezas abissais humanas, herança de nossos ancestrais que viviam um mundo completamente diferente. No entanto, ainda convivemos com esses sentimentos conflitivos vindos de outrora.

Duas das três personalidades da Lucy, retratadas no mangá de Elfen Lied (divulgação).
Lucy vive atormentada entre três personalidades distintas; a irracional que apenas quer destruir tudo que vê pela frente, alimento um poço sem fundo de rancor e ódio; a garotinha doce e ingenuamente meiga, que não conhece o que é maldade e por isso está sempre causando embaraço, mas também provocando afeto instantâneo; e a sua personalidade original, que é uma garota ressentida e carente, mas a espera da redenção. As duas personalidades conflitantes em seu ego fazem parte desta mesma garota, é como se suas emoções ganhassem formas arquétipas.

Uma das razões do amplo apelo de Elfen Lied advém justamente da sua multiplicidade arquétipa. É um produto originado nos anos 2000, virada do século, onde o arquétipo passou a ser uma cultura dominante através dos meios não tradicionais de comunicação, ao contrário do século anterior, onde este arquétipo; ou modelo de comportamento, o personagem icônico, era mais como uma imagem barroca; algo a se admirar e até querer pra si, mas mantido a uma certa distância religiosa (não é um simples acaso que seja a época onde saíram mais ícones e ídolos pop).

Atualmente, qualquer um pode ser esta figura arquétipa através de redes sociais ou plataformas de vídeos. Mas não é simplesmente por Elfen Lied exercer essa estrutura do arquétipo, afinal tantas outras já o fizeram, mas por refletir o pensamento da geração pós-2000. Para as pessoas, a sua história é a mais triste, e o seu ressentimento não tem fim. Todos querem ser Batman. Querem ressurgir das cinzas, frios e "fodões". Lucy converge todos estes sentimentos.

***

Faces alegres e sérias, quase uma constante feroz em Elfen Lied.

Elfen Lied é um clássico à sua maneira, daqueles clássicos marginais (que ficam à margem, não aceitos integralmente pela aristocracia, mas marginalmente se tornam um cult). E todo cult é um clássico marginal. Elfen Lied é o nosso melhor exemplo de splatter anime. Há vários, desde Genocyber, passando por Higurashi, a qualquer outro anime obscuro que você conseguir se lembrar, mas nenhum exerce uma força tão visceral e chocante quanto Elfen Lied. Isto porque há o vinculo emocional, que emerge toda reação tempestivamente apaixonada que este provoca. E com paixão, quero dizer tanto repugnância, como ódio e amor. Ouso dizer que, como uma produção “barata” dos meados dos anos 2000, com um character design e animação nada estelar, Elfen Lied só segue ainda sendo notoriamente conhecido entre os otakus pela paixão que provoca. Talvez, desta, o ódio seja o catalizador mais forte capaz de impulsionar a série para fora do completo ostracismo.

Adaptado da série de mangás de doze volumes do mangaká Lynn Okamoto, originário de 2002, o anime é conhecido justamente por seu conteúdo forte e polêmico. Penso que um dos maiores méritos de Okamoto são as parafilias utilizadas amplamente no decorrer da história, provocando a distensão da tensão dramática, combinando harém-cômico típico, alguns elementos subversivos de sci-fi e conteúdo gráfico extremamente violento. O que significa que você vai lidar com piadas de nudez e fluídos sexuais extremamente embaraçosos juntamente com decapitação e tortura físico-psicológica.

Elementos de choque e pavor são a característica base de Elfen Lied, embora a série também seja muito conhecida por sua abertura emblemática, celebrada em oito entre dez listas como uma das melhores aberturas de anime já produzidas, apresentando a nudez de Lucy como a elfa que é sobreposta às pinturas clássicas de Gustav Klimt (inclusive, já falei sobre no Elfen Lied Brasil).

Os ataques de uma Diclonius são sempre devastadores.
Esta sequência ganha peso através da sonoridade da música tema por Kondo Yukio, com letras em latim que causam um efeito litúrgico. É uma abertura bastante impressionante que traz o temor e a veneração, Lillium soa sempre como um hino sacro de adoração e lamento, mas essa abertura é seguida imediatamente por um braço decepado e uma sala pulverizada com sangue, em qualquer episódio que a precede.

A primeira metade do episódio inicial, ou os seus primeiros segundos de introdução, apresentando a fuga de uma Lucy iconicamente desnuda com a cabeça sobreposta por um capacete de metal, fugindo por um corredor metálico e frio de um complexo com portas-trancas que descem e sobem, e uma orla de guardas armados tentando evitar que fuja, é simplesmente das melhores introduções que já criadas pelas mãos do homem. É excruciante e excitante a forma como ela se aproxima, lentamente, poderosa e ameaçadoramente, da porta de saída, com os corredores com causando uma sensação de claustrofobia e a sua frieza que nos mantém a certa distância. Completamente incrédulos. É uma cena envolvente que dispersa a tensão pelos poros. É magnifica.

A nobre Roberta ficou feliz ao completar a publicação de Elfen Lied no Brasil (divulgação).
- imagem extraída do site Elfen Lied Brasil, neste link -
Mesmo quando tudo parece se acalmar, sempre há uma atmosfera ameaçadora fulminante no ar, não permitindo o completo relaxamento dos músculos. É como se a lei da troca equivalente estivesse em plena ação. Quando Lucy é alvejada no complexo, e ressurge inofensiva como Nyuu nas areias da praia, diante do interesse romântico Kouta e a rival Yuka, a cena que anteriormente se sentia fresca e irremediavelmente mundana, se torna em temor futuro. Não importa o quão tola e pervertida seja qualquer cena, sempre se espera que Nyuu vai se transformar a qualquer momento ou que alguém irá aparecer em sua captura, tornando a vida de todos um caos. Assim o enredo progride em meio a subtramas e núcleos dramáticos, a sombra ameaçadora de Lucy está sempre à espreita, antevendo o massacre, culminando em um desfecho inesperado.

Uma nota lateral: o mangá é ainda melhor nesse sentido, indo a extremos inimagináveis e atingindo um clímax em um circulo completo. Originalmente, eu deveria traçar um paralelo entre mangá e anime aqui, no entanto, a escrita por vezes toma rumos inesperados e para abordar este tema, o texto ultrapassaria as linhas do bom senso. Caso você esteja interessado, indico os artigos Apaixonados por Elfen Lied, referente a publicação do mangá no Brasil, e a página “Mangá e Anime” (que estou republicando, depois de tê-la retirado do ar).

Elfen Lied reservou um espaço para o amor.
A nobre Roberta é sempre participativa em momentos como este,
de ampla festividade, e o NETOIN! agradece imensamente por
mais este texto todo especial.

Nobre visitante, você encontrará a jovem blogueira com facilidade
em seu lar particular, o site Elfen Lied Brasil.

Até a próxima!

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Conheça a jovem convidada, visitante...

Roberta Panuru, adoradora compulsiva por obras que contenham drama, suspense, sci-fi e gore. Não dispensa um título que contenha qualquer uma destas características. Domina a arte da escrita com passagem precisa de ideias. Na área de blogs desde 2010, firmando sua própria marca registrada.

2 comentários:

  1. Anime Lindo.
    Proposta única e bem trabalhada, como Wofls Rain.

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    Respostas
    1. Saudações


      Isto me lembra que preciso assistir Wolf's Rain ainda...


      Até mais!

      Excluir

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