A chamada da vez. |
Ora pois, seja bem-vinds a mais um post deste especial de aniversário do NETOIN!. Antes de mais nada, vou aproveitar a ocasião para fazer uma breve apresentação. Chamo-me Luis, mais conhecido online como "Blue" ou "Blue-kun", tenho vinte e seis anos de idade e, embora seja brasileiro, passei sete anos da minha vida (correspondentes à minha adolescência) em Portugal, lugar onde comecei a me interessar pela animação e pela cultura japonesa, de modo geral. Foi com base nesta experiência que o nobre Carlírio me perguntou se estaria interessado em participar desta iniciativa, e apresentar um pouco do lado "lusitano" do fandom para a galera daqui.
Para facilitar a leitura, decidi dividir o texto em algumas tópicos, abordando pontos que acho que são de destaque dentro do assunto, além de tecer comparações com o meu conhecimento da comunidade brasileira quando possível. Espero que você desfrute da leitura. E sinta-se à vontade para comentar com dúvidas ou perguntas acerca do tema.
1. A progressão do anime em Portugal
Saint Seiya não teve um real sucesso em Portugal. |
Os guerreiros de Kurumada, infelizmente, nunca atingiram a mesma popularidade em Portugal. A primeira transmissão foi interrompida após serem exibidos apenas trinta e seis episódios no canal RTP, por conta de queixas contra o conteúdo violento da série. Felizmente, o trono foi ocupado por outro monstro da animação japonesa, sendo este Dragon Ball.
Exibido pela primeira vez em 1995, a série de Toriyama foi um sucesso estrondoso, e em especial a continuação, Dragon Ball Z, que pode ser facilmente considerada de um dos mais importantes programas da história da televisão lusitana. Crianças e adolescentes deixavam as suas obrigações de lado para acompanhar as aventuras do Goku. E a popularidade do programa continua tão forte que, mesmo hoje em dia, o canal “Sic Radical” continua a exibir reprises das mais variadas séries da franquia quase todas as manhãs. Aliás, embora não possa confirmar isto com toda a certeza, acho que desde a sua estreia (na década de 1990) não houve nenhum período em que Dragon Ball tenha deixado de ser exibido em Portugal.
Slayers. |
A influência de Dragon Ball não parou apenas nos programas que foram exibidos. A dublagem portuguesa da obra de Toriyama, produzida pelos estúdios NOVAGA, tornou-se uma referência na área. Com um humor tipicamente nacional, o script substituía linhas menos importantes com todo o tipo de pequenas piadinhas, que faziam referências a expressões coloquiais (ou a programas famosos da época, como o popular show de auditório “Big Show SIC”).
A recepção foi tão positiva que o estilo criado foi adotado por outras séries (como os próprios Cavaleiros do Zodíaco, que em 1998, ganharam uma nova dublagem e voltaram à televisão, seguindo desta vez a linha introduzida por Dragon Ball). Isso rendeu episódios em que o nosso sempre popular cavaleiro Hyoga perguntada ao seu mestre se este conseguia “ver o seu pato”, enquanto utilizava o seu ataque, ou então a incríveis provocações no meio das lutas como “já tomaste as tuas vitaminas?”.
Se você riu com o texto, não perca a oportunidade de ver
estas pérolas também em vídeo
Doraemon foi exibido no canal Locomotion em Portugal. |
Atualmente, no entanto, a situação não é tão animadora. Tal como acontece no Brasil, os canais generalistas (de transmissão normal e variada na grade aberta) tiveram os seus espaços para animes muito reduzidos, havendo ainda a popularização dos desenhos animados americanos, que ocupam cada vez mais os já escassos espaços dedicados à programação "infantil". Além disto, com a internet se tornando numa ferramenta tão importante, além do surgimento de fansubs e sites como o Crunchyroll, o público que dependia da televisão para assistir este tipo de conteúdo agora tem outras alternativas para sanar tal vontade.
2. Dificuldades em encontrar material em português
Dragon Ball: um dos raros sucessos dos animes em Portugal. |
“Adquirir mangá em Portugal nunca foi fácil. A maioria do número pequeno de localizações portuguesas foi lançada num formato pouco convencional, a dos fascículos mensais lançados em quiosques, pelo que são impossíveis de encontrar à venda em qualquer nos dias que correm. Como tal, a única opção sensata para adquirir mangá é comprar livros importados, mas para quem não se sente confortável a realizar a própria importação, não existem muitas opções disponíveis”.
One Piece: o anime também chegou até Portugal. |
“Esta situação permanece desde os anos 1990, e não há qualquer indicação que possa mudar um dia, dado que a maioria dos fãs existentes em Portugal não aparenta ter interesse em adquirir mangá legalmente e contenta-se com as traduções de fãs disponíveis online. O mercado não pode crescer quando nem sequer existe”.
O último parágrafo do texto do Tsumori, em especial, merece algum destaque, e é algo que tanto eu como ele temos vindo a presenciar ao longo dos anos. Esta "falta de interesse" dos fãs, motivada pela dificuldade em encontrar os produtos e com a facilidade da Internet, parece ser uma das razões que levaram ao estado atual da comunidade, ponto que abordo no meu próximo tópico.
3. A comunidade
A face séria do Naruto diz tudo... |
A situação se agrava ainda mais, quando se leva em consideração a não existência de um mercado. Não é possível "culpar" os novos fãs, que apenas têm interesse nas séries mais populares, pois os mesmos não têm acesso a mais nada nos meios de comunicação conhecidos. Assim, a cada ano que passa, os entusiastas e este novo grupo de "fãs casuais" se distanciam cada vez mais, e isto começa a ser notório até mesmo em eventos organizados no território português.
Um dos pontos que mais me chama a atenção, nos grandes eventos organizados hoje em dia em Portugal, é a quase completa ausência do dito anime nos mesmos. A programação conta com todo o tipo de coisas, com campeonatos de cosplay, competições de videogames, shows de música, áreas dedicadas a Vocaloid, workshops e stands dedicados à venda de merchandising, enfim, a variedade é muita. Mas, ainda assim, há sempre aquela omissão gritante sobre uma mostra de anime que seja. Para uma festa que é, teoricamente, dedicada à disseminação da animação japonesa, estes encontros cada vez mais fazem um trabalho pior na divulgação daquele que deveria ser o produto mais importante.
Guerreiras Mágicas de Rayearth, também presente no fandom lusitano. |
“Acho que a grande mudança aconteceu em 2009 com o Iberanime, e a 'vinda' da Comicon em Portugal veio a revolucionar as coisas. A Comicon este ano contou com cinquenta mil visitantes, e o Iberanime vai ser já no Pavilhão Atlântico no próximo ano. Isto tudo somado à febre mainstream por séries e jogos tipo League of Legends tem trazido imensos números e novos cosplayers. Além disso, de fato não existe mais um foco na mostra e divulgação dos animes, em si, com atividades que dele se insurgem. Aqui encontram-se a venda de merchandise, a febre dos AMVs, e, acima de tudo, o cosplay, que, como dito anteriormente, têm ganhado muita força também por conta da comunidade dos videojogos. Porém, não é como se não existissem outros eventos menores. Algumas pessoas ainda organizam coisas mais 'intimistas', mas têm dificuldade em cativar o público”, explica.
Assim, está criada uma estranha situação. De um lado, a animação japonesa e os mangás estão mais populares do que nunca, no País, quando eventos como o Iberanime alcançam números expressivos, mas, por outro, a comunidade em si parece estar mais dispersa. Os “fãs” que surgem, e que são em grande número, contentam-se apenas em consumir os produtos mais mainstream, mas não demonstram interesse em ir mais a fundo dentro deste universo.
O NETOIN! agradece muito ao jovem Luís
pela sua importante e completa participação,
nesta série de posts especiais pelo
nono aniversário deste lar na internet.
pela sua importante e completa participação,
nesta série de posts especiais pelo
nono aniversário deste lar na internet.
Até a próxima!
[ made in NETOIN! ]
Conheça o jovem convidado, visitante...
Luís, mais conhecido como "Blue", é um grande fã de animação japonesa, especialmente das seiyus. Adorador de obras como Symphogear e Gundam, o rapaz está sempre pronto para dar a sua opinião sobre o tema. |
Muito bacana esse seu post, tenho uma amiga de portugal ela vive me falando como é difícil encontrar mangás para comprar lá mesmo, ela fala que apenas encontra publicações mais mainstream como dito no post, no máximo o que ela achou de diferencial foi um mangá de Vampire Knight, muito bom conhecer a história de como o anime se introduziu em Portugal.
ResponderExcluirUma curiosidade interessante é que não sei se é feito por fãs, mas já presenciei diversas obras dos anos 80 e até Fairy tail dublado em português de Portugal.
Espero que com o tempo crie-se um famdom maior de animes e mangás mais cult em portugal.
o/
Saudações
ExcluirEste post, feito pelo nobre amigo Luís, retrata muito bem a situação vivida pelos fãs de animes e mangás em Portugal. É um tema que tem de ser levado em consideração, além de ser estudado com calma.
Assim torcemos, todos, nobre.
Até mais!